sexta-feira, 8 de abril de 2011

Um sermão que alimenta o rebanho de Deus.

A respeito de minha doutrina, ensinei fielmente, e Deus me deu a graça de escrever. Fiz isso do modo mais fiel possível e nunca corrompi uma só passagem das Escrituras, nem conscientemente as distorci. Quando fui tentado a requintes, resisti à tentação e sempre estudei a simplicidade. Nunca escrevi nada com ódio de alguém, mas sempre coloquei fielmente diante de mim o que julguei ser a gloria de Deus” (João Calvino).[1]
Um mês antes de morrer, em 28 de abril de 1564, Calvino convoca os ministros de Genebra e proferi estas palavras. João Calvino sem duvida foi um dos maiores expositores das Escrituras de todos os tempos. Muitos podem discordar de mim, com está afirmação, mas antes de discordar eu recomendo ler alguns autores que citam Calvino, como também ler alguns comentários de sua autoria, ai sim depois de obter conhecimento sobre a pregação de Calvino, pode criticar.
O motivo de usar Calvino como exemplo, é por que ele tinha uma preocupação sem igual em alimentar o rebanho de Deus (a Igreja), com uma mensagem sadia e que alimentasse a Igreja, coisa que nos dias em que vivemos, com muitos “pregadores” por ai, se tornou algo instinto, nestes últimos dias tenho me indignado com tanta falta de respeito com as Escrituras, nos nossos púlpitos. Neste artigo quero desenvolver alguns argumentos sobre a pregação dos últimos dias.
1. Autoridade provem das escrituras: A doutrina da inspiração das Escrituras segundo o Dr. Hermisten Maia P. da Costa [2] é definida da seguinte forma: “(...) a influência sobrenatural do Espírito de Deus sobre os homens separados por ele mesmo, a fim de registrarem de forma inerrante e suficiente toda a vontade de Deus, constituindo esse registro na única fonte e norma de todo o conhecimento cristão”. Acredito que a consciência do pregador deve estar bem influenciada por esse conceito, ou bem fundamentada sobre a inspiração do texto da sua pregação, o que eu quero dizer é que o pregador deve respeitar o texto inspirado, primeiro sabendo que não é a palavra de Paulo, de Pedro ou de qualquer outro que escreveu, mas é um texto escrito por um homem de Deus, e que o texto reivindica para si autoridade de Deus. O pregador não possui nenhuma autoridade sobre o texto, a autoridade do pregador é dada pelo próprio texto. O que percebo hoje é que muitos pregadores se acham com autoridade, porque abrem a bíblia, lêem uma porção da Bíblia, e começa a dar bronca no povo, como se estivesse causando um impacto tremendo, quando na realidade ele mesmo não foi impactado. Isso é sem duvida é a pior das realidades, na pregação atual. O pregador tem que ter consciência de que o texto que ele está lendo é a Palavra de Deus, cuja qual não se brinca, o povo só recebera aquilo que está sendo transmitido, quando está autoridade está sendo aplicada na vida do pregador.
2. O respeito ao texto: Um grande erro de muitos pregadores é a falta de respeito ao texto. A bíblia foi escrita em um tempo diferente, uma língua diferente, um motivo especifico e um contexto diferente do nosso. Muitos pregadores são muito incoerentes com o sentido real do texto, não o respeitando, por exemplo, recentemente ouvi uma pregação que falava “autoridade espiritual” com base no texto de Numeros 16, no decorrer da mensagem o pregador estava falando sobre a rebeldia, e qual deveria ser a reação da Igreja com relação a aquele individuo rebelde, pois bem; foi apresentado que a Igreja não deveria aceitar suas idéias, e de certa forma rejeitá-lo, para que sua idéia não se proliferassem no seio da Igreja, foi usado vários textos para fundamentar a doutrina, só que os textos foram usados de forma aleatória sem respeitar o contexto que ele estava inserido, um dos textos que foram usados foi 2 Ts 3: 6, mas pêra ai esse texto fala de rebeldia? Ele pode até falar, mas não para o exemplo de Numeros 16. Paulo está advertindo aqui a irmãos que estavam vivendo uma vida de ociosidade, e queria viver a custa dos irmãos que trabalhavam, Paulo ele trata desse problema na primeira carta, mas parece que a coisa ficou pior (1Ts 4: 11, 12; 5: 14), então Paulo pede aos irmãos que cortem relação com esses irmãos que se entregaram a vida de ócio, Paulo ele mesmo dava exemplo de trabalhar para ganhar a vida (2Ts 3: 7-9). Muitos pregadores usam textos para fundamentar sua doutrina só porque o texto possui a palavra chave, isso acaba ferindo o contexto antecedente e o precedente.
3. Respeitando a autoria: Esse eu acredito que é o erro mais comum, e o mais triste. Muitos pregadores tomam para si o texto insere nele sua ideologia ou faz uma eixegese, corrompendo a idéia real do autor ou o “TELOS” do texto (essa palavra significa “propósito”). O autor quando escreveu o texto ele tinha um propósito em mente, pois bem para muitos pregadores, esse propósito não existe, é muito comum ver a falta de respeito ao texto da Palavra de Deus, em muitas pregações. Calvino havia dito certa vez o seguinte: “Visto que revelar a mente do autor é a única tarefa do interprete, ele erra o alvo ou, pelo menos, desvia-se de seus limites quando afasta seus leitores do propósito do autor...”. Uma pregação sem o entendimento da “intenção autoral” é uma pregação humanista, de caráter PESSOAL, com total segundas intenções. O pregador deve lembrar sempre que ele só está ali para divulgar a Palavra de Deus, fora isso, é só falácias.
Acredito que possa existir mais pontos que deve ser apresentado neste artigo, como; a hermenêutica, a postura e muitos outros pontos, mas acredito que estes pontos já falam tudo. Para mim uma pregação que alimenta, é uma boa e vela pregação expositiva, tal pregação expõe o texto ponto por ponto, e está sempre preocupada em dizer o que o texto quer falar, desprovida das aplicações pessoais do pregador, não que eu esteja dizendo que a pregação não deve ter aplicação, deve ter sim, sem a qual não é pregação, agora, a aplicação é coordenada pelo próprio texto. Eu não quero sair da Igreja com as idéias de fulano ou beltrano, mas sim com a Palavra tratando minha alma.
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[1] Ferreira, Franklin, João Calvino e a Pregação das Escrituras, mensagem proferira na 8° Conferencia Fiel para pastores e Lideres em Portugal, em outubro de 2008
[2] Costa, Hermisten Maia Pereira da, A inspiração e Inerrância das Escrituras, Ed Cultura Cristã.                    

         

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