segunda-feira, 18 de abril de 2011

Desenvolvimento da hermenêutica na Historia; Parte I.

Imagem de Origenes
Toda ciência teve seu desenvolvimento histórico, inclusive a hermenêutica bíblica. Neste artigo que será desenvolvido em etapas queremos fazer uma síntese da historia da interpretação bíblica que se inicia no período denominado patrística (100-590 A.D) até a contemporaneidade e veremos as mudanças que sofreu a hermenêutica ao longo da historia. Espero que aqueles que amam a bíblia possam se agradar do conteúdo.
O PERIODO PATRISTICO (100 – 590 A.D).
O Período Patrístico é o periodo que sucede á era apostólica, e se estende do ano 100 até o ano de 590 d. C¹. É chamado de “Período Patristico” porque neste tempo os lideres da Igreja, os homens mais influentes e que contribuíram efetivamente para historia da Igreja, são chamados de “Pais da Igreja”. Durante todo o período patristico, a Hermenêutica ficou dividida em três grandes escolas que divergiam entre si quanto ao sentido do texto bíblico e os princípios de interpretação da bíblia: a escola de Alexandria, a escola de Antioquia e escola acidental.      
I. A Escola de Alexandria.
Os principais representantes desta escola são; Orígenes, Clemente de Alexandria, Irineu e Justino. Essa escola defendia que o texto bíblico possuía múltiplos sentidos. Henry Virkler na sua obra “Hermenêutica avançada: princípios e processos de interpretação bíblia Ed. Vida acadêmica” comentando sobre o pensamento de Clemente (150 á 215 a. C) ele diz:
 “Clemente acreditava que as escrituras ocultavam seu verdadeiro significado a fim de que fossemos inquiridores, e também não é bom que todos a entendam. Ele desenvolveu a teoria de que cinco sentidos estão ligadas as Escrituras (histórico, doutrinal, profético, filosófico e místico), com as mais profundas riquezas disponíveis somente aos que entendem os sentidos mais profundos”.²
O interprete para Clemente, tinha que identificar estes cinco sentidos no texto lido, com esses sentidos o interprete conseguiria entender a mensagem do texto, se bem que tal interpretação impunha um sentido fantasioso ao texto, que estava até mesmo além do que o texto estava propondo.
Orígenes (254) foi um notável sucessor de Clemente, sendo o primeiro na historia da igreja a expor uma teoria de interpretação bíblica, incluindo uma teoria hermenêutica completa. Pode-se chamar o seu método de “alegórico”. Sua influência direta se encontra em Filo e no platonismo. Ele entendia que por trás do significado original do texto havia um significado mais profundo, que era o sentido real dada pela inspiração divina. (parece com uma teoria muito conhecida no campo da filosofia) Vejamos um exemplo de interpretação feita por Origines na tabela abaixo do texto de Lucas 10: 30-37:

Texto Literal
Interpretação alegórica
O homem descendo para Jericó
Adão
Jerusalém
O Paraíso
Jericó
O Mundo
Os Ladrões
Os poderes demoníacos.
O sacerdote
A Lei de Moises
O Levita
Os profetas do A.T
O samaritano
Cristo
As feridas
O castigo pela desobediência
O animal
O corpo de Cristo
A hospedaria
A Igreja
Os dois denários
O Pai e o Filho
O hospedeiro
O Cabeça e o Filho
A promessa de retorno do Samaritano
A segunda vinda de Cisto.³


“Sintetizando o método de Orígenes, então, o método consistia em descobrir nas Escrituras três níveis de significado: o primário ou Literal, o psíquico ou moral (sentido escatológico – relaciona-se com a vida religiosa presente), e o intelectual ou espiritual (sentido místico relaciona-se com a vida celestial, a vida futura). Para ele este ultimo era o mais condizente com a inspiração divina.”
Como podemos ver a escola de Alexandria tem como principio de interpretação o método chamado Alegórico. Então resumindo, o que é este método? É o método que tem como pressuposto a idéia de um sentido mais profundo e oculto no texto, e o interprete deve encontrar esse sentido o dando prioridade.
Veremos a Escola de Antioquia e a escola Ocidental na próxima postagem.
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¹ Alguns arredondam para 600 d. C.
² Virkler, Henry A., Hermenêutica avançada: princípios e processo de interpretação bíblica – São Paulo : Ed. Vida, 2007.
³ Citado por Hall, p. 139.  



2 comentários:

  1. Obrigado , muito útil. Mas fiquei com a impressão que você poderia ter começado pela formação das escolas de interpretação. Por exemplo: Vicente cita Filo mas não diz nada sobre ele. Abraços!

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