segunda-feira, 2 de maio de 2011

Desenvolvimento da Hermenêutica na Historia; Parte VII.

Método de Interpretação da Teologia Liberal.
Fechamos o assunto anterior da nossa serie com o surgimento da teologia liberal. Vimos que a teologia liberal foi grandemente influenciada pela filosofia racionalista, mas também quero destacar que o liberalismo, tem um debito com deismo, do ceticismo francês e do iluminismo alemão no campo teológico. Todas estas escolas de pensamento minaram a teologia ortodoxa, sendo que as doutrinas de fé acabaram sendo descartadas por não passar pelo grifo da razão.
A fé ortodoxa havia estabelecido um método que correspondesse e considerasse o caráter divino e humano da Escrituras, sua inspiração e infalibilidade, a historicidade dos relatos bíblicos e a intencionalidade do texto em comunicar sentido de maneira profissional, o método chamado gramático – histórico. Esse método foi resistindo e prevaleceu a muitas formas que tentavam inovar a interpretação bíblica, tal método deu atenção ao caráter histórico das Escrituras e considerava a ação de Deus na historia. O pressuposto que servia de bussola para este método, era a crença na infalibilidade (a bíblia estava desprovida de erros), e a inspiração (doutrina que defende que as Escrituras, foram escritas por homens que receberam a orientação do Espírito Santo; II Tm 3: 16; II Pe 1: 20-21).
Com a Renascença houve o direcionamento a academia para as coisas terrenas, diminuindo a influência do referencial de Deus no ensino, na pesquisa e na reflexão, isso com a influência do filosofo racionalista iluminista Emanuel Kant. O racionalismo gerou um pressuposto de autonomia do humano e o direito do livre pensar, esse espírito preparou o terreno, dentro das universidades e seminários de toda Europa, para o surgimento de um método de interpretação da Bíblia, que considerasse primariamente as implicações históricas e até o próprio conceito de historia e as realidades dos antigos escritores sagrados, filosofo Hegel tem uma participação fundamental no desenvolvimento desse pensamento, que acabou levando a um papel secundário o caráter divino das Escrituras.
À medida que a teologia liberal ocupou as cátedras o método gramático – histórico, foi deixado de lado, pois a idéia da Inspiração das Escrituras, já não era mais considerada nos meios acadêmicos de estudos da bíblia, dando lugar agora a um método chamado “histórico- Critico” ou o movimento conhecido como “Alta – Critica”. Este método nasce com a poderosa influência do racionalismo na filosofia e do deísmo¹ na teologia. Os adeptos do método afirmavam que era um método neutro e ciêntifico. O método passou a ser considerado o método ideal de interpretação das Escrituras. Comentando sobre o ufanismo que girava em torno do novo método o Dr. Augustus Nicodemus Lopes apresenta dois fatores; ele diz:
“A nota de triunfo que acompanhou o seu surgimento se deveu, em primeiro lugar, à perda da consciência de que o pecado havia afetado a capacidade de raciocínio no homem. Retornou ao ideal grego de que o homem é a medida de todas as coisas... Um segundo fator que contribuiu para esse ufanismo foi à crença de que toda verdadeira pesquisa, em qualquer área do conhecimento humano, pode ser feita de maneira isenta e neutra.”²
Os teólogos liberais agora liam as Escrituras com os óculos da ciência humanista. Isso fez com que a teologia passasse por uma crise muito grande nesse período, as academias não encaravam a bíblia como um livro divino mais um livro que foi construído ao longo dos tempos por uma tradição religiosa. A questão então era encontrar aquilo que se acreditava que era revelação de Deus, então a partir de uma definição dogmática de J. Solamo Semler (1725- 1791). “A raiz de todos os males (na teologia) é usar os termos ‘Palavra de Deus’ e ‘Escritura’ como se fossem idênticas” Essa afirmação de Samler antecede o método, mas é com essa afirmação dogmática que o método é aplicado para as Escrituras. O que é que esta afirmação significa para os críticos liberais da Bíblia? Por detrás desta declaração existe a doutrina de que a Escritura contem erros e contradições, lado a lado com aquelas palavras que provém realmente de Deus, ou seja, a bíblia “contém a Palavra de Deus” ela não “é a Palavra de Deus” isso trouxe a idéia de que existe um, Canon dentro do Canon, um Canon formal  e um Canon normativo, o primeiro se refere aos livros que foram formalmente aceitos pela Igreja antiga, quanto ao segundo, chamado normativo porque contém aquilo que é autoritativo para o cristão e para Igreja porque é verdadeiramente a Palavra de Deus em meio as palavras humanas. Isso fez com a bíblia fosse mutilado em seu estudo, para se encontrar o cânon normativo, o problema é que até hoje não existe um cânon reconhecido e aceito pelos próprios críticos.
Muitos teólogos católicos e protestantes foram adeptos do método Gerhard Ebeling, Rudolph Bultmann, Ernest Käsemann.( depois falaremos em outro momento sobre os teólogos Liberais).
As criticas desenvolvidas pelo método todas elas tiveram o mesmo objetivo,  encontrar o cânon dentro do cânon, elas são: a critica das fontes, a critica da forma, critica da redação. (não vamos apresentar agora cada uma delas mais estamos trabalhando no assunto, aguardem).
Em fim o método liberal de interpretação, já não tem muita força na contemporaneidade, foram surgindo hermenêuticas novas no período que corresponde a pós-modernidade, como o método de interpretação corresponde ao período moderno, ele possui pressupostos filosóficos do seu período, com a decepção dos valores modernos o método também já não é encarado como eficaz para o contesto do século XX.
No próximo artigo vamos tratar da hermenêutica pós-moderna.
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 ¹ Deismo: Movimento filosófico do século XVIII que enfatiza a moralidade e a religião natural e negava a interferência de Deus sobre o mundo cristão.
² LOPES, Augustus Nicodemus. O dilema do Método Historico-Critico na Interpretação Bíblica, em Fides Reformata 2005, p. 115-138.       

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