O que é ser um cristão espiritual? A espiritualidade de uma pessoa muitas vozes é medida pela quantidade de dons que ela tem, pelo poder de oratória que ela apresenta, pelas experiências “sobrenaturais” que ela possui, no caso de muitas igrejas , vemos os casos da “glossolalia” (termo usado para a manifestação do falar em línguas), o profeta que se levanta para advertir a Igreja ou trazendo uma “adivinhação” do futuro de alguém, isso tudo muitas vezes é o que determina a espiritualidade de alguém.
Aqui neste artigo quero deixar bem claro que meu objetivo não é uma critica a tais fenômenos presentes na religiosidade, pois estaria ferindo a filosofia deste blog, porém algo tem me incomodado e me deixado inquieto na igreja hoje, tanto na igreja que se apresenta na mídia, como no movimento que faço parte hoje. O titulo deste artigo é um trecho da passagem de I Coríntios 3: 1 a primeira parte do versículo, Paulo estava advertindo a Igreja que se localizava na cidade de Corinto.
Corinto ficava a 90 km a oeste de Atenas, esta cidade era uma cidade de riqueza, luxo e imoralidade. Corinto era conhecida pelas mais de deis mil prostitutas do templo hierodouloi (hierodouloi) essas praticas certamente cessaram antes da chegada de Paulo em Corinto, embora a lembrança das praticas ainda permanecesse na mente dos cidadãos de Corinto, lá tinha a expressão “Viver como um Corinto” significava adotar uma vida de imoralidade sexual e de embriagues. Paulo visitou Corinto pela primeira vez na segunda viagem missionária (At 18), Conheceu Aquila e Priscila, companheiros de fé cristã, e como ele fazedores de tendas, durante um ano e meio ficou hospedado na casa delas. Paulo escreveu pelo menos duas cartas que foram incluídas no NT e pelo menos outra que não foi preservada (1Co 5:9). A primeira carta foi escrita por volta de 55 d. C., perto do final do período de três anos que Paulo passou em Éfeso (1Co 16: 5-9; At 20: 31), nesta carta Paulo responde a varias questões levantadas pela delegação, como também advertir a Igreja de certas praticas que foram reprovadas por ele.
A igreja de Corinto era uma Igreja que em aparência todo espiritualista deseja está, uma Igreja que enfatizava o uso dons espirituais, principalmente o falar em línguas, aponto de quem não tivesse este dom era descriminado, ou melhor dizendo não era espiritual; porém, Paulo não os considerava tão espirituais assim. Vejamos por que:
Primeiro: A divisão entre os membros (1Co 1: 10-24). Havia na Igreja de Corinto facções, grupos. Alguns gregos, com sua predileção pela especulação intelectual e seu orgulho pela sabedoria, se dividiam em suas interpretações filosóficas do cristianismo, com isso se agrupavam em redor de uma doutrina. Como se não bastasse, se tornavam-se partidários de um ou outro líder, a Igreja era dividida, não havia unidade de pensamento nem de fé, cada um procurava combinar Cristo com sua pequena marca registrada.
Segundo: A imoralidade havia sido aceita pela Igreja (1Co 5; 6: 12-20). No capítulo cinco Paulo combate um caso de inserto. Um dos membros da Igreja estava vivendo abertamente em pecado com a esposa de seu pai, e a Igreja em vez de administrar a devida disciplina, orgulhava-se da “mente arejada” ao acolher semelhante pessoa. Paulo ficou inconformado com essa atitude da Igreja e ordenou a Igreja que esse homem fosse entregue a satanás (v. 5), a principio parece uma ordem muito dura para um apóstolo, mas o que Paulo estava querendo dizer com essa expressão é que o homem fosse formalmente excomungado da igreja, a fim de servir de exemplo, para impedir a propagação de atividade desse tipo, e também na esperança de levar o culpado ao arrependimento. Temos um mesmo caso em II Coríntios 2.
No capitulo 6, Paulo adverte sobre a Imoralidade de alguns dos coríntios. Antes dos dias de Paulo seu templo no Acrocorinto (Acrópole) tinha mais de dez mil sacerdotisas prostitutas, disponíveis para o “culto” e para licenciosidade. Alguns dos cristãos coríntios tinham estas praticas, e pelo que parece eles ainda continuavam tendo estas praticas imorais, Paulo declara enfaticamente que eles estão errados, que essa maneira de viver não é comum para aqueles que estão em cristo.
Terceiro: Os litígios judiciais de uns contra os outros (1Co 6: 1-8). O apostolo adverte contra a publicação das desavenças diante de tribunais pagãos. Para Paulo era impróprio os seguidores da religião do amor fraternal publicarem suas desavenças diante de tribunais pagãos, as desavenças já era algo ruim, mas levar essas demandas aos tribunais pagãos e submetê-los a juízes iníquos não fazia sentido. Com isso Paulo pergunta se não existe um único homem de integridade e de piedade entre eles que tenha sabedoria e competência suficientes para dirimir, com base na sabedoria divina, as queixas e disputas entre os membros da irmandade.
Quarto: As praticas impróprias na ceia do Senhor (1Co 11:17-34). Era costume da Igreja no dia da Ceia do Senhor se realizar uma “festa da fraternidade” onde os irmãos mais ricos traziam comida. Em Corinto havia um problema que Paulo advertiu, os que traziam alimento comiam tudo dentro de um “circulo intimo”, sem esperar que toda a congregação se reunisse. Os cristãos, ao imitar assim as festas e bebedeiras dos povos pagãos nos templos idolatras, transformavam as festas de fraternidade em ocasião para glutonaria e perdiam totalmente de vista o verdadeiro significado da Ceia do Senhor.
Esses podem ser vistos como os principais problemas de cunho moral da Igreja de Corinto na época, houve também um problema doutrinário que Paulo tratou no capítulo 15, sobre a ressurreição de Cristo. Então eu pergunto, Corinto era uma Igreja Espiritual? Certamente essa é uma pergunta retórica. Corinto é a imagem de uma espiritualidade barata, de uma igreja que podia demonstrar por meio do seu movimento que estava cheia de Deus, mas que era uma Igreja desunida, que permitia o pecado, que não sabia lidar com seus conflitos internos e que ainda havia praticas mundanas, no meio dela.
O apostolo então, orienta a Igreja com relação a esses problemas. Mas o texto principal de I Coríntio que pode ser entendido como a máxima da verdadeira vida cristã, e que define a espiritualidade de alguém é capitulo 13, onde ele apresenta a verdade sobre o amor, Paulo dedica uma seção inteira que vai do capitulo 12 ao 14 sobre os dons espirituais, o capitulo 13 ele trata do amor, nesta seção sobre os dons o apostolo apresenta o amor como essencial para a verdadeira vida cristã, podemos dividir o texto em três partes:
1º A inutilidade dos dons sem o amor (v. 1-3);
2º Atitudes que revelam o amor (v. 4 – 7);
3º A eternidade do amor (v. 8-13).
O Senhor Jesus apresenta os dois grandes maiores mandamentos; “Mestre, qual é o grande mandamento na lei? Respondeu-lhe Jesus: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” (Mt 22: 36 -40). Todos os dois se fundamentam no amor, Paulo em Galatas 5: 14 ensina que o amor é o cumprimento da Lei.
A vida espiritual bem vista é aquela que se expressa em atitudes que refletem o caráter de Cristo, o amor é o que define uma vida espiritual sadia, o amor não aceita divisões, o amor não se conforma com o pecado, o amor sabe lidar com as diferenças, o amor se comporta de forma decente.
Hoje uma igreja espiritual ou uma vida espiritual, é medida pela quantidade de milagres que ocorre ou pela quantidade de dons, ou até mesmo pela quantidade de revelações; bem a Igreja de Corinto tinha tudo isso, mas Paulo não os considerava, pelo menos nesta primeira carta como espirituais. O amor é a marca registrada do cristianismo, sem ele não somos dignos de sermos chamados cristãos, por amor Cristo morreu pelo seus eleitos para lhe trazer vida, vida está que reflita o mesmo amor pregado na cruz .
Sole Deo Gloria.
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